Uma Explicação Simbólica
Mas de onde vem a consciência do tempo, ou
o sentimento que determina a mais imprecisa das nossas
emoções? Refiro-me ao amor; mas
é a morte, que lhe está ligada, que obriga a
que eu deseje a tua presença – ó flor mais viva desta
natureza morta. então, sei que o meu horizonte
é amanhã, definido pela linha exacta
que os teus dedos traçam entre mim e ti. Porém, no banco
em que nos sentamos, ouvindo o rio que corre,
apesar do calor, as tuas palavras são como esta água: mansas
e frias, ou duras e quentes, o que depende das circunstâncias
e das estações.
O que pergunto, no entanto, é o que faz
a duração do amor? E a resposta que dou tem a ver
com as próprias variações da alma. O que eu sei é
que ele é imprevisível como a própria cor dos teus olhos,
que depende das horas do dia; mas se a luz da tarde
perdura, e a tua voz declina com a ternura do poente,
é porque há uma explicação para a corrente das frases,
onde vejo as medusas da idade saírem do abismo do fundo
para a transparência vaga que os teus lábios me oferecem. Há
em tudo isto, um símbolo. E se a medusa pode ser
uma parte dele, a outra parte és tu que a conheces: o
caule partido numa divisão de tarefas, quando
ambos dividimos desejo e orações.
Agora, nada é mais simples do que isto. Encontramo-nos
a meio caminho. Pode ser que os dois pedaços do ramo
colem ; se isso não acontecer, porém, já nada pode mudar. O
que tem de colar são estas partes da alma que
trocámos um com o outro; e o símbolo é apenas aquilo
que, em cada um de nós, é
esse outro que guardamos.
Nuno Júdice
In "Cartografia de Emoções"
o sentimento que determina a mais imprecisa das nossas
emoções? Refiro-me ao amor; mas
é a morte, que lhe está ligada, que obriga a
que eu deseje a tua presença – ó flor mais viva desta
natureza morta. então, sei que o meu horizonte
é amanhã, definido pela linha exacta
que os teus dedos traçam entre mim e ti. Porém, no banco
em que nos sentamos, ouvindo o rio que corre,
apesar do calor, as tuas palavras são como esta água: mansas
e frias, ou duras e quentes, o que depende das circunstâncias
e das estações.
O que pergunto, no entanto, é o que faz
a duração do amor? E a resposta que dou tem a ver
com as próprias variações da alma. O que eu sei é
que ele é imprevisível como a própria cor dos teus olhos,
que depende das horas do dia; mas se a luz da tarde
perdura, e a tua voz declina com a ternura do poente,
é porque há uma explicação para a corrente das frases,
onde vejo as medusas da idade saírem do abismo do fundo
para a transparência vaga que os teus lábios me oferecem. Há
em tudo isto, um símbolo. E se a medusa pode ser
uma parte dele, a outra parte és tu que a conheces: o
caule partido numa divisão de tarefas, quando
ambos dividimos desejo e orações.
Agora, nada é mais simples do que isto. Encontramo-nos
a meio caminho. Pode ser que os dois pedaços do ramo
colem ; se isso não acontecer, porém, já nada pode mudar. O
que tem de colar são estas partes da alma que
trocámos um com o outro; e o símbolo é apenas aquilo
que, em cada um de nós, é
esse outro que guardamos.
Nuno Júdice
In "Cartografia de Emoções"
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