...Deus criara o mundo oval, coerente, perfeito...
« O céu era azul, cinzento por vezes. O capim amarelo, verde quando chovia. Troncos castanhos de árvores, mar verde-azulado, espuma branca. As cores eram, portanto, ovais.
Deus criara o Mundo, os corvos e os morcegos. Moviam-se em ciclos de vida e de morte. Os morcegos criavam o mel para os corvos e alimentavam-se dos excrementos destes. Os corvos grasnavam, a função deles era grasnar. E isto, quando queriam.
Os caxinjonjos cantavam e os matrindindes subiam pelos capins secos. Estranhas flores polícromas, chiando no capim.
Deus criara o mundo oval, coerente, perfeito.
Uma única lei fizera: ninguém deveria subir à montanha, mais alta que o céu, onde o Sol era azul e lançava dardos da cor das rosas.
Os corvos eram livres naquele mundo oval. Grasnavam se quisessem. De qualquer modo, os morcegos teceriam o mel de que se alimentavam. Esse mel dava-lhes forças pra melhor chicotearem os morcegos, exigindo maior rendimento. Deus ensinara-lhes como proceder. Também que não subissem à montanha, pois o Universo se deslocaria e o caos seria. Deus era justo, grasnavam os corvos. E faziam os morcegos recitar esses preceitos divinos.
Os corvos eram livres naquele mundo oval.
Mas os morcegos aspiravam à luz do Sol. E se subissem à montanha, os morcegos veriam que o Sol não era amarelo, nem o céu azul, cinzento por vezes. Os morcegos revoltar-se-iam e comeriam todo o mel, alimento dos corvos.
Religiosamente, os corvos rodavam em círculo, sem ousar subir à montanha, e impedindo os morcegos de o fazer. »
PEPETELA
Deus criara o Mundo, os corvos e os morcegos. Moviam-se em ciclos de vida e de morte. Os morcegos criavam o mel para os corvos e alimentavam-se dos excrementos destes. Os corvos grasnavam, a função deles era grasnar. E isto, quando queriam.
Os caxinjonjos cantavam e os matrindindes subiam pelos capins secos. Estranhas flores polícromas, chiando no capim.
Deus criara o mundo oval, coerente, perfeito.
Uma única lei fizera: ninguém deveria subir à montanha, mais alta que o céu, onde o Sol era azul e lançava dardos da cor das rosas.
Os corvos eram livres naquele mundo oval. Grasnavam se quisessem. De qualquer modo, os morcegos teceriam o mel de que se alimentavam. Esse mel dava-lhes forças pra melhor chicotearem os morcegos, exigindo maior rendimento. Deus ensinara-lhes como proceder. Também que não subissem à montanha, pois o Universo se deslocaria e o caos seria. Deus era justo, grasnavam os corvos. E faziam os morcegos recitar esses preceitos divinos.
Os corvos eram livres naquele mundo oval.
Mas os morcegos aspiravam à luz do Sol. E se subissem à montanha, os morcegos veriam que o Sol não era amarelo, nem o céu azul, cinzento por vezes. Os morcegos revoltar-se-iam e comeriam todo o mel, alimento dos corvos.
Religiosamente, os corvos rodavam em círculo, sem ousar subir à montanha, e impedindo os morcegos de o fazer. »
PEPETELA
in "Muana Puó"
...alguma semelhança com a sociedade actual é mesmo pura coincidência...





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