04 outubro 2009

...irrompe do corpo movendo-se por trás das palavras...





A escrita é a minha primeira morada de silêncio


a segunda irrompe do corpo movendo-se por trás das palavras


extensas praias vazias onde o mar nunca chegou


deserto onde os dedos murmuram o último crime


escrever-te continuamente... areia e mais areia


construindo no sangue altíssimas paredes de nada



esta paixão pelos objectos que guardaste


esta pele-memória exalando não sei que desastre


a língua de limos



espalhávamos sementes de cicuta pelo nevoeiro dos sonhos


as manhãs chegavam como um gemido estelar


e eu perseguia teu rasto de esperma à beira-mar



outros corpos de salsugem atravessam o silêncio


desta morada erguida na precária saliva do crepúsculo



Al Berto
in "O Medo"

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