04 outubro 2009

...o que se passa com ele? Porque dá e tira? Porque é doce e arredio ao mesmo tempo? O que se passa com ele afinal????...




Toca e foge

Um homem e uma mulher aproximam-se. Passam muitas horas não em frente um ao outro, mas em frente ao computador. Ali estão seguros, embora saibam que mais tarde ou mais cedo a ansiedade vai dar cabo daquilo. A mulher está muito mais ansiosa. Não se contém. Quer cheirá-lo, ver-lhe as mãos, os olhos, perceber que perfume usa. É que no computador pode dizer-se tudo, mas com a pele rente aos olhos já não se pode mentir. Ele adia, vai adiar sempre até poder. Porque ali a partir de casa (e até pode ser do trabalho), ele nunca vai falhar. Vai continuar a ser o homem de sonho que ela quer conhecer. Essa tem sido a marca dele: deixá‑las no limbo. E nunca mais dali saem. Ele, quando apertado por elas, afasta-se. Mas sentindo-se sozinho volta ao ataque. O ataque aqui são meras palavras de sedução, mas resulta sempre, e ele sabe. Há no entanto que dizer a verdade: ele tem um vocabulário diferente para cada uma delas. Pelo menos não cruzarão informação.

Chegados aqui, pergunta-se: então qual é o problema dele? (…) Elas não sabem muito bem. Se se conhecessem todas, podiam reunir-se numa convenção na Curia e enquanto se banhavam em águas menos turvas discutiriam o problema daquele homem. Felizmente para elas, não sabem da existência umas das outras e sendo assim apenas conspiram nas horas vagas com a melhor amiga, com a confidente de sempre.

Bolas! O que se passa com ele? Porque dá e tira? Porque é doce e arredio ao mesmo tempo? O que se passa com ele afinal?

Bastou a humilhação uma vez. Foi há 10 anos (…). Depois disso afastaram-se. Despediu-se. Isolou-se. Ela nunca contou nada a ninguém.
A vida dele foi difícil no início, até se tornar confortável. Conheceu a excitação de outras formas, não precisou das mulheres de carne e osso. E nunca mais conheceu o fracasso, além de nunca ter conhecido o Amor.

De qualquer maneira, elas – as mulheres, estão sempre ali. E ele quase sente prazer em recusá-las. São tão previsíveis! Não aguentam muito tempo neste jogo de sedução. Perdem sempre. Elas vão e vêm, ele está para ficar. (…) Esta parte é complicada: como é que um homem há-de saber qual é a mulher certa para compreender uma coisa destas? Quando dizer-lhes? E se ele se apaixona e ela foge? (…)

Jogar pelo seguro é assim: atraí-las, alimentá-las, nunca as deixar partir. E quando sentir que elas estão quase a cansar-se de não receber, dar um bocadinho. Só um bocadinho, que as mulheres contentam-se com pouco. Felizmente!

Onde é que ele tinha muito para tantas?

(Cidália Dias
in “O sexo e a Cidália” NS 195)




...qualquer semelhança com situações do passado é mera ficção...

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