...a different childhood...
...nos dois últimos dias, estive a ajudar na Feira em honra do Santo dos agricultores que nos últimos anos se tem realizado na minha Instituição. Aquilo que parecia impossível tornou-se realidade graças à vontade e empenho (e muito trabalho) de muitos funcionários. Deu para ver aqueles que vestem a camisola dos que são apenas "funcionários públicos". E diga-se, que a grande maioria se tem empenhado quer nos dias da feira (e anteriores), na Loja e no Restaurante e na produção de bens alimentares e decoração e organização das estruturas.
Na semana passada vi que precisavam de ajuda e como sempre trabalhei toda a minha vida e "não me caem os parentes no chão" se trabalhar honestamente, decidi que iria ajudar também. As pessoas que estavam na equipa são fantásticas, portanto, para mim foi um prémio poder estar com eles. Até porque uma das máximas da minha vida sempre foi selecionar as pessoas em função do que são como pessoas e não em função das "patentes".
Nestes dias, conheci uma menina, filha de uma das funcionárias que realiza trabalhos agrícolas. Logo de início, a docilidade dela, sorriso e o facto de não pedir nada (nem aceitar nada do que lhe queríamos oferecer) surpreenderam-me. Os filhotes das minhas colegas queriam brinquedos, doces... A única coisa que a princesa queria era um pouco de atenção. Quando estávamos mais ocupados na loja ia ter com a mãe. A mãe (uma daquelas pessoas com um sorriso e boa disposição, sempre pronta a ajudar, apesar do magro salário e do muito trabalho pesado todos os dias) estava ainda mais ocupada do que nós e rapidamente regressava.
Lá começámos a perguntar algumas coisas e rapidamente a timidez da princesinha foi desaparecendo. Não estávamos a ver onde ficava a Escola que frequentava. E a princesa diz algo que nos surpreendeu pela forma sincera e assertiva como o disse, fez-nos sorrir: "Quando a minha mãe vier, perguntam à minha mãe, que ela sabe. A MINHA MÃE SABE TUDO!"
A mãe chegou passado um bocado (estava eu e a princesa a ver um coelho branco que estava perto de nós e que apenas lhe faltavam os óculos e o relógio de bolso para parecer o coelho da Alice) e correu a abraçá-la.
(este era o coelho simpático)
Olhando para a maioria dos miúdos de 8, 9, 10 anos que me são próximos, que fazem birras, são exigentes e têm um comportamento insolente quando não lhes fazem as vontades; e vendo esta princesinha que a única coisa que procurava era atenção, deu para perceber como as roupas de marca, os gadgets e as imensas atividades podem desenvolver algumas capacidades, mas pouco contribuem para o respeito e para a boa educação.
Ao final da noite, percebi que ela teria fome. Já lhe tinha perguntado antes e sempre me disse que não. Para quem tinha jantado cedo, era suposto cerca da meia-noite ter fome. Fui com ela ver o que queria: "não gosto de farturas!" (como é que é possível não se gostar de farturas???) "não gosto de crepes com chocolate" (como???), "não gosto de bolos", "não me apetece pão com chouriço". E gomas? (tínhamos chegado ao fim da feira e estava a barraca de gomas em frente e eu estava a começar a desesperar com tantos nãos) Gostava muito. UFAA!!! Escolheu as gomas maiores. E tinha um sorriso ainda maior...
...a vida ensina-nos a cada momento...
(...claro que as gomas pouco alimentam e têm imensos aditivos alimentares. Mas era a única coisa que ela queria - quase todos os miúdos tinham sacos de gomas e lolipops e ela recusou tudo... excepto as gomas, que queria...)
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