31 dezembro 2006

O poder dos sonhos

(....) Sonho, ainda acredito nos meus sonhos, e uma forma de acreditar neles é recordar essas anotações. Sonho que um jovem escritor se fecha numa biblioteca e encontra um livro surpreendente; por isso, há muito tempo que renunciei à vaidade da biblioteca pessoal. Acompanham-me umas quantas centenas de livros que são, na sua maior parte, de amigos, ou livros a que retorno uma e outra vez. Mas esvazio sistematicamente as minhas estantes e ofereço a várias bibliotecas públicas os livros que considero necessário partilhar. Esta é uma boa maneira de partilhar e socializar os sonhos.

Sonho, e não me importo que uma visão do lucro como única orientação do homem estigmatize os sonhos e os sonhadores. Considero-me um sonhador, paguei um preço bastante duro pelos meus sonhos, mas são tão belos, tão plenos e tão intensos que voltaria a pagá-lo uma e outra vez.
Creio que não há sonho mais belo do que o mundo onde o pilar fundamental da existência seja a fraternidade, onde as relações humanas sejam sustentadas pela solidariedade, um mundo onde todos compartilhemos da justiça social e actuemos com coerência.

Os meus sonhos são irrenunciáveis, são indomáveis, pertinazes, resistentes e desafiam o horror do pesadelo ditatorial. A defesa destes sonhos tem a ver com o velho debate entre o belo e o horrendo, entre o bem e o mal, no seu sentido mais pleno e intenso. (....)

In “O poder dos sonhos” Luis Sepúlveda

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