11 fevereiro 2007

Para Viver Um Grande Amor...

Um tema controverso (e a propósito do dia 14 que se aproxima): grandes amores ou grandes paixões... acontecem às vezes, e creio que quem viveu uma grande paixão ou um grande amor se pode dar por feliz, dado que estes sentimentos intensos e grandiosos passam ao lado da maior parte das pessoas.

O pior é que quando se vive uma relação em que existe um sentimento intenso e forte, se espera muito... espera-se demasiado, porque também se investe demasiado nessa relação... e a maior parte das vezes as nossas espectativas acabam por ser defraudadas.





Pela parte que me toca, já vivi um grande amor... já vivi uma grande paixão... mas se pudesse voltar atrás e alterar a forma como vivi estas relações, fá-lo-ia sem grande hesitação.



Apaixonei-me há muitos anos por alguém que sabia ser a pessoa errada para mim, mas... era algo tão forte, que eu deixava de agir racionalmente ao seu lado. E durante o tempo que durou, foi bom, mas... era tão intenso e irracional, que parecia que me consumia por dentro... e olhando para trás, se eu pudesse voltar atrás no tempo, creio que apagaria esses "anos" da minha vida e não perderia grande coisa...

Sentimentos tão fortes acabam por nos magoar... e muito...



Uma década depois apareceu alguém... vindo de "lugar nenhum", mas desde as primeiras vezes em que falámos que se criou uma enorme empatia e uma enorme cumplicidade. E (pela minha parte) algo bastante mais forte... tremendamente forte, mas completamente diferente daquela "grande paixão" que vivera muitos anos antes. Quando me abraçava não sentia aquela "erupção vulcânica", que sentira antes e que abalara o meu mundo... mas ao invés, sentia uma paz e uma felicidade enormes. Como se tivesse encontrado aquilo por que sempre procurei. Geralmente, fala-se na "outra metade da laranja"... e esse alguém foi tudo isso.

Em cada mimo, em cada abraço, em cada troca cúmplice de olhares, a minha vida fazia sentido... e aos poucos, tornou-se claro para mim que a minha vida longe desse alguém não tinha razão de ser... aquilo que sentia era cada vez mais forte... e as pequeninas coisas do dia-a-dia faziam aumentar a minha admiração, o meu carinho... o meu AMOR... e para quem sempre esteve habituada a lidar sózinha com tudo o que lhe acontecia, recusando assumir compromissos, pela primeira vez senti uma enorme necessidade de partilhar a minha vida... e este relacionamento tornou-se (quase) obcessivo. Não em termos de assumir um compromisso, mas... havia apenas uma coisa da qual tinha a certeza: já não conseguia viver longe dessa pessoa. Fosse como fosse... Tudo o resto passou para segundo plano... e isso, obviamente, não foi bom... pelo menos para mim.


E como é sabido, "all good things come to an end" e claro que essa relação chegou ao fim, subitamente, sem grandes avisos... e não foi da forma mais agradável, convenhamos, mas não creio que quando relações deste género terminam se consiga conviver confortavelmente com a outra parte.


Afinal, perdeu-se muito mais do que um namorado ou um companheiro... alguns dos sonhos acabaram destruídos ali mesmo. Pelo menos muitos dos meus sonhos terminaram nesse dia. E perdi uma parte de mim...


Mas não faz qualquer sentido tentar reviver tudo com outra pessoa, tentar reedificar os castelos de sonhos... seria impôr a uma nova relação um enorme "imposto" a pagar: afinal, as pessoas são diferentes, as relações são diferentes, as situações são diferentes... e (principalmente!!!) de mim já pouco resta da pessoa que era há 3 anos e meio atrás... tudo isto me fez mudar- algumas mudanças para melhor, outras para pior... todavia, já pouco resta dos meus grandes sonhos... e há sentimentos que apenas uma vez na vida acontecem... como estes... tentar revivê-los de novo, com outras pessoas, seria um erro tremendo.


A vida continua... e desta vez "à minha maneira", já sem grandes sonhos e sem me querer prender a ninguém... vivendo apenas um dia de cada vez, e guardando o melhor de cada dia... sem exigir demasiado aos outros, sem pedir demais à vida... mas não esquecendo que para mim, "menos que tudo é pouco mais que nada"...











Para Viver Um Grande Amor...


Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.

Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.

Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.

Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.

É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...

Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?

Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.

É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.

Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.


-Vinícius de Moraes-

Texto extraído do livro "Para Viver Um Grande Amor"

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