19 abril 2007

É outono, desprende-te de mim

É outono, desprende-te de mim.


Solta-me os cabelos, potros indomáveis
Sem nenhuma melancolia,
Sem encontros marcados,
Sem cartas a responder.


Deixa-me o braço direito
O mais ardente dos meus braços,
O mais azul
O mais feito para voar.


Devolve-me o rosto de um verão
Sem a febre de tantos lábios,
Sem nenhum rumor de lágrimas
Nas pálperas acessas.


Deixa-me só, vegetal e só,
Correndo como rio de folhas
Para a noite onde a mais bela aventura
Se escreve exactamente sem nenhuma letra.


Eugénio de Andrade

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