06 maio 2007

O arco-íris...

Bem... este blogue não é um “diário” sentimental, muito menos um diário do meu dia-a-dia, mas antes uma “lavagem da alma”.
Como me costumam dizer alguns amigos, podem não saber de mim durante algum tempo, podem não me ver ou não falar comigo, mas nos saltos que vão fazendo por aqui sabem como me vou sentido. Os textos, os poemas, as letras de canções que vou deixando reflectem o que sinto. Aliás, sendo como sou, não seria de esperar outra coisa, e este é o meu “cantinho” da blogosfera. Como me disse a autora de um blogue, que eu visito regularmente, já há algum tempo, os nossos cantinhos servem para mantermos a nossa sanidade mental. E é realmente disso que se trata, Ana M.... embora muitas vezes também haja alguma exposição excessiva do nosso “eu” verdadeiro, e isso nos possa trazer grandes chatices. Mas tudo o que fazemos pode ser dirigido contra nós (e as minhas “confusões” dos últimos tempos, mais uma vez, vieram recordar-me isso mesmo- especialmente quando se trabalha e muito e se deixa qualquer coisa feita, há sempre forma de voltar as coisas contra nós)...

Ultimamente, algumas chatices fizeram-me valorizar mais o valor da (verdadeira) amizade... e a amizade ou é verdadeira ou não é amizade, não é? E mais do que isso, os concertos dos Xutos nos últimos tempos fizeram-me reencontrar alguns amigos que me deram a mão numa das piores alturas da minha vida... e aqueles abraços cúmplices nas últimas duas semanas encheram-me de uma enorme alegria.

Tenho andado bastante nostálgica, como o demonstram os últimos textos... e fazes-me falta pázinho: a tua cumplicidade, o teu carinho, ter alguém com quem falar de música, ou poesia...saudades de ter a tua companhia nos concertos e, principalmente saudades do meu ar feliz... às vezes já não sei se tenho saudades de ti, se o que sinto são saudades da pessoa que eu era ao teu lado. Sei que não há volta possível aos tempos felizes - infelizmente para mim, acabei por te entregar tudo (e ajudar a estragar tudo)... aquilo que tínhamos não era mais do que uma “amizade colorida”, sem compromissos. Nem nunca me referi a ti como “namorado”... mas sempre soubeste aquilo que sentia por ti, e que te tornava em algo mais do que um simples namorado. Eras a pessoa com quem eu queria partilhar a minha vida, não importava bem de que forma... creio que te sentiste pressionado quando uma amiga te falou da “namorada de Coimbra”. Sinceramente, não consigo perceber outra razão para a tua atitude. Lembro-me de me ter rido quando me disseste que a A. te tinha perguntado pela “namorada de Coimbra” e disse-te a brincar que me informasses quem era, para eu não me surpreender se vos encontrasse juntos. Realmente, para mim, esta relação não era de (apenas) namorados - pela enorme cumplicidade que existia, parecia que nos conheciamos desde sempre... e desde o início que soube (e te disse) que o que sentia por ti era único. Obviamente, que acabei por construir alguns "castelos no ar": desde a primeira vez que conversámos no msn, casualmente, soubeste aquilo que eu queria da vida... e porque razões esse sonho tem sido adiado.. e o relógio biológico não permite(ia) mais adiamentos. Na altura, pensei que esse sonho fosse partilhado também por ti, pelas conversas que mantinhamos. Algum tempo depois, percebi que não. E esse foi outro motivo importante que te levou a zarpar, segundo creio.

Na 5a feira, quando estava a chegar a casa, depois da habitual viagem de 180 kms, vi um arco-íris. Nos últimos anos, cada arco-íris que avisto traz-me algumas (boas) recordações. A primeira vez que nos encontrámos, a caminho de Beja, em 2003, estava um temporal terrível. Mas na Ponte Vasco da Gama havia um arco-íris lindíssimo. Diz-se que por debaixo de cada arco-íris se encontra um tesouro. E por tudo o que se passou nesse dia, fiquei com a sensação que tinha encontrado o meu tesouro. A viagem até Beja correu bem com as duas companheiras de viagem, a minha loirra e a Zabeta, a procura do centro da cidade para irmos ver a exposição do Eduardo, o concerto que foi memorável pela negativa e o frio terrível que fazia... mas, contigo ali, tudo se tornou bem melhor.

Uns dias depois, combinámos encontrarmo-nos na Feira da Gastronomia em Santarém. Eu estava na estação à espera do comboio, que estava mesmo a chegar, quando me telefonaste dizendo que tinhas tido um acidente na A1. Embora andasse bastante adoentada e não me sentisse com grande vontade para fazer viagens longas de carro sózinha, nem me lembrei disso: só queria ir para casa, colocar qualquer coisa no saco de viagem e rumar para Lisboa, a toda a velocidade, apesar do mau tempo. E foi com uma enorme alegria que confirmei que estavas bem, três horas depois... magoado, mas sem lesões graves, para além de uns golpes. Nesse dia senti-te como a outra metade de mim...

Uns meses depois, retornámos a Beja, para ver mais um concerto. Mas apesar da companhia ser praticamente a mesma, tudo tinha mudado. Estavamos a anos-luz... e eu estava demasiado magoada por algumas coisas que tinham sido ditas, e sobre as quais nunca falámos para esclarecer devidamente. Creio que para além do (teu) tempo não ser muito, a vontade também era pouca. E de cada vez que penso em algumas coisas que foram ditas, ainda sinto mágoa. Na viagem de regresso a Lisboa, o tema “Mundo ao contrário”, que tinha ouvido ali, pela primeira vez, ecoava-me na cabeça: “se gosto de ti, se gostas de mim, se isto não chega tens o mundo ao contrário”... e de facto, o meu mundo estava perfeitamente às avessas. Estupidamente, tinha deixado que tu te transformasses no centro da minha vida. E ESSE FOI O MEU MAIOR ERRO. Amei-te tanto, que me anulei por completo. E quando te foste embora, a única coisa que sobrou foi uma completa confusão: os problemas de saúde, que se foram agravando durante o ano que se seguiu, e que me debilitaram física e psicologicamente e me limitaram a vida (entrar em coma ou pré-coma todas as semanas, às vezes mais do que uma vez, não é nada agradável, especialmente vivendo sózinha); a situação familiar, que foi piorando; a situação profissional e a incerteza quanto ao futuro... e o pior de tudo, não saber como seguir em frente. Era tudo tão fácil ao teu lado... e de repente, vi-me perdida, no meio dos meus problemas. E a distância infindável a que te sentia, só me fazia sentir uma raiva imensa!! E no estado em que me encontrava psicologicamente, essa raiva rapidamente tomou conta de mim e quase que me destruiu... e destruiu sem dúvida aquela amizade(?) e cumplicidade que muito rapidamente se tinha instalado entre nós. Para sempre...

Dizem e com razão, que os amigos se manifestam nos piores momentos das nossas vidas... e de facto, nessa altura pude contar com a ajuda de algumas pessoas que, me ajudaram, pedaço a pedaço, a refazer a minha vida. E nem sabes como desejei que um dia o telémovel tocasse, ou que aparecesses e me desses um abraço daqueles que faziam sentir este "barco grego" num "porto seguro"... sem ninguém mais por perto, sem mais nada para além da amizade... acho do que sinto mesmo falta é do carinho, da cumplicidade... da amizade que eu pensava existir. Mas se não resistiu a isto... se calhar nunca existiu. Se realmente existisse amizade, creio que apesar dos nossos feitios, conseguiriamos encontrar uma forma de ultrapassar tudo isto. Olhando para trás, vejo que de parte a parte houve demasiados erros. Mas, ainda assim, se realmente tivéssemos encontrado tempo para falar a sério, creio que as coisas poderiam ser bem diferentes, mesmo não sendo "pessoas razoáveis". Mas na altura, e por nos conhecermos razoavelmente bem, era mais fácil atirar tiros certeiros e magoarmo-nos...


Demorou algum tempo, mas acabei por conseguir concretizar os projectos que tinha em mãos. Há um que não consegui ainda concretizar, mas vou lutar por isso... afinal, nada na minha vida foi simples até hoje. E não foi por isso que desisti das coisas que queria e tenho conseguido com um pouco mais de trabalho realizar os meus sonhos...

Que é feito de ti? Sinceramente, nem sei bem. Por vezes, os amigos comuns deixam escapar algumas coisas. Muito raramente pergunto por ti. Nos últimos tempos vi-te por duas vezes, em concertos do Palma e pareceste-me bem. E fiquei contente. Por ti... mas especialmente por mim, por ver que toda aquela amálgama de sentimentos menos bons tinha desaparecido. Às vezes tenho saudades tuas – e nos últimos concertos, tenho-me lembrado de ti e da M. – em Leiria, recordei-me do jantar improvisado de pizzas à porta da tenda, em 2003; alguns dos temas que ouvi nos últimos concertos e algumas situações trazem-me algumas saudades. Mas creio que o que tenho mesmo é saudades da felicidade que sentia... mais do que tudo!
Ouvi dizer que estavas fora do país. Curiosamente, às vezes, aparecem visitantes desse(s) local(is) directamente no pendulices. Às vezes, penso se não serás tu... embora não acredite muito, conhecendo-te um pouco. És incapaz de dar o braço a torcer. O que é certo é que esses visitantes mantém um “traço” comum, diferente de quase todos os outros que caiem por aqui. E curiosamente, às vezes aparecem alguns comentários, anónimos (ou quando tento saber a origem do autor não consigo lá chegar, porque o perfil foi apagado ou o mail não existe) sobre alguns temas ou algumas falhas relativamente a autores.

Mas não foi isso –as visitas estranhas, pensando que poderias ser tu o visitante– o que me levou a escrever tanto sobre o passado. Nos últimos dois anos, mudei tudo o que podia mudar na minha vida e consegui concretizar (quase todos) os sonhos por que vinha lutando desde miúda... falta-me arrumar ESTA gaveta para poder seguir em frente. Às vezes arrumo-a e penso que se vai manter assim... mas ela teima em se desarrumar, quando menos espero. Preciso de “exorcisar” estes “fantasmas” de vez. Talvez a Ana M. tenha razão e esta seja uma boa forma. Na (re-re-)leitura do “Fazes-me falta” encontrei uma série de passagens que traduzem a forma como me sinto. Esse livro foi mesmo um “presságio” de tudo isto... e talvez me ajude a arrumar a gaveta que falta arrumar, como aconteceu no início de 2004. Nessa altura, tentei afastar-te de vez. E consegui afastar-te. Era a única forma de recomeçar a viver. Só lamento ter-me afastado da M. ... mas, apesar de não ser a forma mais correcta, era a única forma de seguir a minha vida. E a tua amiga K. ajudou... e acabou por me fazer um favor (para além do favor que fez a ela própria, ao usar os meios que tinha, lícitos ou não, para se aproximar de ti- enfim, há que ver as coisas usando a "medida certa").

Por isso... espero que desta vez, o Sérgio Godinho tenha razão quando afirma que “o passado é um país distante”... pelo menos, depois desta escrita (quando te pões a escrever nunca mais páras), as coisas parecem-me mais simples. Logo se vê... e amanhã será um outro dia... e por acaso, mais um dia de concerto X... e de convivío com os amigos...

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Só vivendo sobre a mudança se podia evitar a dor, só contornando a monstruosa perfeição do tempo se podia vencê-lo. Assim pensava, e enganei-me, porque o tempo não é pensável. Concentrei-me em deixar de ser para poder ser tudo, em esquecer para dominar a existência. Eu sou o tempo; sou nada, o nada veloz e imóvel que molda o corpo do tempo. Deixar de ser é ainda acatar as regras implacáveis do ser. Estou esgotado do correr contra a dor, contra a memória, contra a infância, contra o amor e o ódio. Criei uma meta de tranquilidade que se afasta tanto mais quanto mais corro para ele. Não há paz no instante, e eu vivo de instante para instante. Começo a temer que a paz se alimente do sangue da paixão de que abjurei.

Excerto do livro "Fazes-me falta" de Inês Pedrosa

2 comentários:

Bombokita disse...

Realmente há sempre maneira de se virarem as coisas contra nós, mas fico pensativa em relação ao que isso significa.

Fico muito triste por teres "desaparecido" de tudo, mas tu é que sabes, desde que te sintas mais feliz e aliviada...

Não vale a pena estar a bater mais no "ceguinho" e explicar mais nada...

Mas só quero que saibas que NADA está virado contra ti! Gostamos de ti, és uma pessoa especial, com tudo o que isso possa significar... Não vires as costas a tudo porque isso não resolve nada... EU GOSTO DE TI, podes crer!

Estou aqui em Lisboa, para o que fôr preciso, abrigo incluído ;)

O "CHAVE" é um grande tesouro que tu criaste e que te deu imenso trabalho e prazer e ninguém te tira o valor por isso, tou, no momento, a dar-lhe uma mão mas está à tua disposição no dia e hora que quiseres pegar-lhe novamente! Axo q é bom reiterar isso...

Um beijo com amizade vedadeira!!!!

PS Há um menino cá em casa que perguntou por ti um dia destes :) Sabes é impossível passar pela vida das pessoas e não deixar "tatuagens" ;)E isso é bom...

Pêndulo disse...

Cris

por mail já te expliquei o que queria dizer.

Quanto ao chave e a tudo o resto, nunca foi meu, e sempre desde o inicio, que foi posto à disposição... e por tudo o que foi dito, não me apetece voltar.

eu vou continuar nos muitos sitios do ciberespaço onde me sinto bem. Felizmente são uns quantos. Incluindo este meu cantinho.

Beijos