22 setembro 2007

Busquei a ciência...









Busquei a ciência, e mostrou-me o vazio.
Logrei o amor, e conquistei o fastio.
Quem de seu peito desterrar pudera,
a dúvida, nossa eterna companheira!.
Que é preciso ter na existência?
Força na alma e paz na consciência.
Não tenhais dúvida alguma:
felicidade suprema não há nenhuma.
Ainda que tu por modéstia não o creias,
as flores em tua fronte parecem feias.
Pintar-te-ei num cantar
a roda da existência:
Pecar, fazer penitência
e, depois, volta a começar.
Neste mundo traidor,
nada é verdade, nem mentira,
Tudo é conforme a cor
do cristal com que se mira.


(RAMÓN DE CAMPOAMOR,
in Humoradas, 1886; trad. Paulo Rato)

Sem comentários: