A Dúvida

Quero crer tanto em ti que não te creio,
dita a tormento que o viver me envia;
em teu afecto, claro como o dia,
vagam sombras que me enchem de receio.
Quando a incerteza no teu rosto leio,
pudesse eu te matar, te mataria!
Oh, quanto é dolorosa esta alegria
de te adorar sentindo que te odeio!
Santa virtude, benfazejo olvido,
faze que eu veja meu intento honrado
com igual honradez correspondido!
Leva a dúvida, Amor, que me tens dado,
que eu, a não crer assim, sendo querido,
quisera antes ter fé sendo enganado!
(RAMÓN DE CAMPOAMOR,
trad. Heitor Lúcio )



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