21 abril 2008

...esse erro seria o primeiro degrau...




ENSAIO

Eu estava a ser apenas uma parte de mim e tu
estavas a ser apenas uma parte de ti. As luzes

eram prováveis. Eu, inteiro, precisava tanto de
ouvir o fascínio que disseste, de maneira exacta

como o disseste, mas estavas a ser apenas
uma parte de ti, porque se estivesses única

e completa, com as raízes e as cicatrizes,
com os postais que escreveste mentalmente

e que nunca enviaste, não falarias assim.
Além disso, eu não ficaria calado só a ouvir-te.

Se tu estivesses a ser tu, haveria um substantivo
mal pronunciado, mal compreendido, e essa única

e completa palavra podia ser tua ou podia
ser minha se eu estivesse a ser eu. Esse erro

seria o primeiro degrau. Depois, saberíamos
como chegar às palavras antigas que magoam.

José Luís Peixoto


...é pena que na VIDA não haja ensaios...

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