04 abril 2008

...já nada o tenta...nem o nascer do dia...





SER DE PASSAGEM




O homem parou no patamar da

noite, os olhos como pássaros

rendidos ao luar. Os ombros

firmes como árvores. Os lábios

destilando o mar. Ébrio do susto

de estar só, só a noite o invade.

Pássaro sem bando, árvore sem

pomar, difícil de ser verdade.

Nada é brusco em seu olhar.

Dos dedos resvalou há muito o

mando, já não existe de fora

em que mandar. E quase rei,

todavia. Só a noite o sabe, é seu

par nesta agonia lenta.

Já nada o tenta.

Nem o nascer do dia.


-SILVA MARQUES-

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