13 junho 2010

...nem sequer de tudo ou de nada...


O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos




...de facto, nos últimos meses há um cansaço extremo pela quantidade de trabalho que abracei. Não são apenas as aulas, que já de si dão bastante trabalho, especialmente em regime de avaliação contínua, mas também 8 estagiários, os artigos guardados na gaveta desde o doutoramento, o trabalho de revisão que me comprometi fazer e tudo o resto... juntando a isto alguns problemas de saúde de familiares, o tempo que me sobra para descansar e pensar em mim tem sido muito pouco. Mas, mais do que o cansaço físico, o cansaço psicológico impera. Estou farta desta vida estúpida em que pouco faz sentido. Estou farta de tentar mudar esta vida estúpida, de tentar mudar tudo o que está errado. Mas por muitas tentativas que faça, nada muda. Ou pelo menos, o que eu gostaria que mudasse não muda. Até quando???????...

Sem comentários: