29 setembro 2010

...deixo, então, que soltem tuas cinzas na mancha desta página, onde ainda ressoam os teus passos...

Morreste sem alarido.


De que morte?

me pergunto.

Descentrado no tempo,

rasgavas o silêncio

dos caminhos que te perseguiam.

A via-láctea, entretecendo

teu delírio, nunca me devolveu

a forma imprecisa do teu vulto.

Inclino o rosto

para a luz dispersa da lua

e vejo o teu nome

nas pupilas das aves nocturnas.

Deixo, então, que soltem tuas cinzas

na mancha desta página,

onde ainda ressoam os teus passos.



Graça Pires
in "Uma extensa mancha de sonhos" (2008)

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