...deixo, então, que soltem tuas cinzas na mancha desta página, onde ainda ressoam os teus passos...
Morreste sem alarido.
De que morte?
me pergunto.
Descentrado no tempo,
rasgavas o silêncio
dos caminhos que te perseguiam.
A via-láctea, entretecendo
teu delírio, nunca me devolveu
a forma imprecisa do teu vulto.
Inclino o rosto
para a luz dispersa da lua
e vejo o teu nome
nas pupilas das aves nocturnas.
Deixo, então, que soltem tuas cinzas
na mancha desta página,
onde ainda ressoam os teus passos.
Graça Pires
in "Uma extensa mancha de sonhos" (2008)
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