22 dezembro 2010

...consente tranquilidade ao meu ciúme...

Elegia do Ciúme

A tua morte, que me importa,
se o meu desejo não morreu?
Sonho contigo, virgem morta,
e assim consigo (mas que importa?)
possuir em sonho quem morreu.

Sonho contigo em sobressalto,
não vás fugir-me, como outrora.
E em cada encontro a que não falto
inda me turbo e sobressalto
à tua mínima demora.

Onde estiveste? Onde? Com quem?
— Acordo, lívido, em furor.
Súbito, sei: com mais ninguém,
ó meu amor!, com mais ninguém
repartirás o teu amor.

E se adormeço novamente
vou, tão feliz!, sem azedume
— agradecer-te, suavemente,
a tua morte que consente
tranquilidade ao meu ciúme.

David Mourão-Ferreira

in "Tempestade de Verão"





...hoje, num daqueles quizzes do FB alguém aventava sobre se sou ciumenta ou não. De facto, como humana que sou, já senti ciúmes em algumas ocasiões. Raras, por sinal. Curiosamente, a maior parte das vezes em que senti algum ciúme foi relativamente a amigos - a alguns dos meus melhores amigos - e não relativamente a namorados. Acho que sou demasiado independente e tenho demasiada confiança no que sinto e nos meus amigos (ou nos ex-namorados, enquanto ainda eram parte do meu presente) ou no namorado. De facto, para mim, qualquer relação assenta na confiança; mas eu sou estranha. Talvez por isso, raras vezes tenha sentido ciúmes...

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