23 janeiro 2011

...certamente eu vou ser mais feliz...



...há alturas na nossa vida em que seja por mero acaso, por uma jogada do destino ou devido ao nosso Karma, encontramos alguém, que dificilmente conheceriamos de outra forma e que vem provocar profundas transformações na nossa vida. No meu caso, a pessoa em questão preenchia os requisitos que eu buscava: culto, divertido, inteligente, atencioso... e, pelo menos inicialmente, parecia que havia muito em comum. Era extremamente agradável conversar e, de facto, aprendi milhões de coisas: não apenas aprender a gostar de coisas que desconhecia ou que mal conhecia em termos musicais ou literários, mas aprender a prestar mais atenção ao que me cerca e ao que gosto. Sou distraída por natureza e a correria constante que tem sido a minha vida nos últimos anos, a par da perda da capacidade de memorizar, que outrora era um dos meus pontos fortes, às vezes faz com que eu faça figurinhas tristes que seriam evitáveis se estivesse um pouco mais atenta.
Acabou por se criar uma cumplicidade enorme. A certa altura pensei que era a outra parte de mim e que sabia mais de mim do que eu mesma. Por essas alturas, a minha vida era tremendamente complicada: a par de 2 problemas de saúde graves, que felizmente estão controlados, mas que me limitavam e me faziam sentir um trapo, em termos económicos e profissionais a situação também não era a melhor. E acabei por me ligar em demasia a essa pessoa, como um naufrago se agarra a uma bóia de salvação. De qualquer forma, a situação de fragilidade em que me encontrava, vendo o meu mundo desabar e sem saber como seguir em frente, contribuiu para que me agarrasse a essa bóia. Ao seu lado os meus maiores problemas tinham solução e sentia-me protegida.
Mas, como seria de esperar, essa bóia não durou para sempre. Entendo que a situação em que me encontrava não era fácil e talvez me tenha tornado um peso. E, o último que queria era ser um fardo para alguém. Mas, falhou numa altura em que eu me estava a afundar ainda mais. E afundei por completo. Sem saber o que fazer, sem saber como seguir, sentido que nada tinha que me agarrasse à vida. E pelos vistos, aqui falhou algo que para mim é fundamental numa amizade: a confiança. E ainda hoje me pergunto porquê. Orgulhosa como sou, não lhe facilitei a vida, pelo contrário. A última coisa que desejo é ter alguém ao meu lado por pena. E as reacções em cadeia só me provocavam uma ira ainda maior. Foi um efeito bola-de-neve, a ponto de não conseguir pensar racionalmente (o que não seria já fácil, atendendo aos problemas de saúde e à forma como estava  psicologicamente fragilizada). A ponto de ter atitudes que nunca pensei ter, por desejo de vingança e que antes tinha criticado noutras pessoas. Não me orgulho do que fiz e de como agi. Hoje sei que em situação de pressão psicológica acabamos por perder o controlo e agir de forma surpreendente, normalmente pelos piores motivos. E eu, normalmente actuo de forma impulsiva, o que não ajudou no resultado.
E de facto, a minha vida tornou-se num verdadeiro inferno: um autêntico descontrolo psicológico e emocional que quase me destruiu. Bati no fundo. Sentia-me um autêntico farrapo humano. Felizmente, houve algumas pessoas que me ajudaram a subir e a reconstruir pouco a pouco o meu castelo. Não foi fácil reorganizar tudo. Levou bastante tempo (acho que essa tarefa ainda dura) e a esses amigos sou e serei eternamente grata por me terem ajudado. Não foi fácil reconstruir a auto-estima. Mas consegui, com a sua preciosa ajuda. O engraçado, foi que em alguns casos essa ajuda veio de onde menos suspeitaria. E foi bom perceber que afinal não deveria ser tão má pessoa quanto pensei.
Aos poucos, as peças foram encaixando e consegui concretizar alguns sonhos, que me pareciam impossíveis: acabei a tese e a pós-graduação, arranjei emprego contra todas as expectativas, e contra todas as expectativas continuo e pelo menos durante mais 4 anos continuarei, arranjei o meu canto, que é mais ou menos como eu o idealizei desde há muito. Tenho a minha vida, com a minha família e os meus amigos, com quem tento estar regularmente. E hei-de concretizar o meu grande sonho. Desta vez, sózinha, recorrendo ao plano "C". De qualquer forma, o plano "A" falhou e nunca tentaria impôr uma situação que a outra parte não desejasse. Acho que algo assim só faz sentido se for desejado por ambas as partes. Quanto aos outros pequenos sonhos, tenho-os realizado. No meio disto tudo aprendi que o centro da minha vida sou eu e que a concretização dos meus sonhos depende de mim. Se falhar serei a responsável. Se os conseguir concretizar, uma boa parte do mérito será meu. Fiquei também a conhecer-me melhor - o lado bom e o lado mau (e o lado muito mau, também). E aprendi a limar algumas arestas do meu lado mau, especialmente a ser mais tolerante e a tentar não reagir impulsivamente. Não é fácil, confesso, e muitas vezes falho nas tentativas. Mas esta imperfeição ajuda-me a ser humana e a tentar perceber os outros... e a perdoar as suas falhas. Só descendo do nosso pedestal de intocáveis e tentando "vestir a roupa" dos outros conseguimos perceber algumas atitudes nossas e dos demais...

"Mas não tem revolta não
Eu só quero que você se encontre
Ter saudade até que é bom
É melhor que caminhar vazio
A esperança é um dom
Que eu tenho em mim
Eu tenho sim

Não tem desespero não
Você me ensinou milhões de coisas
Tenho um sonho em minhas mãos
Amanhã será um novo dia
Certamente eu vou ser mais feliz"



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