12 abril 2011




O lógico e normal é que duas pessoas, quando se separam após partilharem o leito da cama e o conforto dos braços durante anos, fiquem amigas. A amizade devia perdurar e as mãos que antes se demoravam em longos gestos e se perdiam, juntas, nos corpos desnudos deviam poder apertar-se. Sem faísca. Sem ligação directa a nenhuma ferida. Sem sangrar o avesso da pele e os olhos se humedecerem… O coração vazio esquece à toa mas quem sente não perdoa. A boca que selava um tão grande Amor não consegue calar a dor e esquecer que por ali ficaram sonhos. Projectos. Por ali passaram grandes planos e uma velhice. Um fim de vida. Aquelas mãos, que hoje queriam segurar as minhas, um dia trocaram o meu corpo e a minha vida sem me avisar. Sem a sensibilidade que se exige e o respeito que se deve a quem tanto bem nos faz… Longe de ser perfeito. Com defeitos e feitios me responsabilizo e culpabilizo. O que fica de uma paixão mal resolvida? Destroços. Muitas feridas que demoram a sarar. A questão é: vale a pena cutucar em velhas marcas? Acho que não… Deixa-as lá. Longe. Onde as cicatrizes eternas se escondem. Hoje recebi um estranho convite para recordar de perto o que há muito se quis afastar de mim. Hoje. Um dia como outro qualquer não fosse trazer um convite que me fez recuar no tempo até um tempo onde eu não era. Eu quase não existia. Vivia na sombra de quem aguardava o melhor momento para se projectar em outro… Mantenho o que sempre pensei e disse: nunca encontrará alguém que esteja disposto a amar como eu. E por ter sido tão grande a entrega, e tão pouca a dignidade do adeus, os laços que uniam a nossa vida foram cortados para nunca mais se puderem unir. As pontas ficaram soltas porque assim devem ficar. Os riscos de um remendo existem e seria caso para perguntar: até quando? Foi praticamente impossível acreditar que estava livre. Só eu sei o que me doeu. Só eu. Eu… Não ultrapassei. Acho que nunca ultrapassarei porque não aceito tudo o que perdi. Estive tão perto e tudo se desmoronou. Desnecessariamente. Não era preciso que assim fosse. Eu nunca obriguei ninguém a ficar… 

(texto retirado daqui)

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