...the theory of Love...
...ontem, arranjei tempo para ir ao cinema, ver um dos filmes nomeado para os Óscares, e que queria mesmo ver, pelo tema. "A teoria de tudo". Não pelo brilhante trabalho do Físico Stephen Hawking, mas pelo papel de cuidadora da sua esposa Jane. Atrás de um grande homem está sempre uma enorme mulher. E esta Beryl Jane Wilde é uma mulher imensa. Embora inicialmente, o namorado tivesse uma esperança de vida de 2 anos apenas. Já lá vão 51 - nos anos 60 os recursos existentes para tratar uma patologia neurodegenerativa eram mínimos.
Desde criança que sei o quão difícil é o papel de cuidador de um paciente crónico. Felizmente, a realidade que conheço teve uma evolução mais lenta. Mas é preciso muito Amor, muita Paciência e um enorme Altruísmo para de certa forma desistirmos de muitos dos nossos sonhos para podermos estar presentes, constantemente presentes, na vida da pessoa que amamos e ajudá-la no que for preciso. E saber que à medida que o tempo passa, as necessidades aumentam. E que cada vez é mais difícil prestar esta assistência. Por muito Amor que se tenha. E da natureza do Amor imenso que a pessoa que para mim sempre foi um herói e um exemplo em tudo nunca duvidei. Muitas vezes me perguntei se eu seria capaz de fazer o mesmo por alguém. A resposta nunca foi sim. Foi sempre talvez. No caso dele, nunca houve dúvidas. Ou em quase 50 anos, nunca as demonstrou.
Há 20 anos atrás recebi uma notícia nada agradável. Especialmente a quem tinha já tinha um guião perfeito para a vida a curto prazo. Tudo mudou. O mundo virou-se do avesso. Tinha uma patologia crónica autoimune. Passei alguns momentos complicados. Especialmente porque para mim era insuportável limitar a vida de alguém por causa dos meus problemas. Sempre tentei resolver tudo sozinha; às vezes não foi possível, mas tentei nunca ser um empecilho para ninguém. Sempre fui demasiado independente. Mais ainda, tentei que a doença não me limitasse os sonhos. Tive sorte. Continuo viva. Sem as patologias associadas, 20 anos depois. Consegui realizar todos os sonhos que dependiam de mim. Os outros chegarão a seu tempo. Se tiverem que chegar.
Às vezes, penso como será a minha vida daqui a 10 ou 20 anos. Precisarei de um cuidador? Deixarei de ser independente? Conheço algumas pessoas amputadas, transplantadas, com problemas de visão. Com dependência. Não sei se conseguirei aguentar esta perda de independência. Mas é o que me espera. Ainda assim tenho tido imensa sorte. Muitos dos que conheci há 20 anos já faleceram há muito. É certo que tenho algum cuidado. Mas acho que sou mesmo uma "sobrevivente"...
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