03 março 2007

Depois de tudo fica a lembrança...

Depois de tudo fica a lembrança dos lugares e
dos seus nomes; dos quartos virados a poente
onde as imagens do rio nunca se repetem nas janelas
e todos os enredos são consentidos sobre as camas.

Ao fundo, havia um armário de madeira com espelho
onde as nossas roupas trocavam de perfume
para que os dias se vestissem sempre melhor.
E, sobre a cómoda, num espelho mais antigo,
a tarde reflectia algumas das alegrias de infância.

Não era o quarto de nenhum de nós,
mas a ele regressávamos sempre com a pressa
de quem anseia os cheiros quentes e antigos
da casa conhecida; como quem espera ser aguardado.

Pressenti, porém, que não era eu quem aguardavas:
uma noite, pedi-te mais um cobertor em vez de um abraço.



Maria do Rosário Pedreira


(realmente, há lembranças que por muito que as queiramos apagar da nossa memória teimam em permanecer... e isso é sinal de que foram momentos ou pessoas tremendamente importantes nas nossas vidas. É curioso como o Tempo dilui os momentos menos bons, deixando os bons momentos vivos na nossa memória...)

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