16 março 2007

Breve regresso à Terra do Nunca...

Meu caro Peter Pan:

Já passou bastante tempo desde a tua partida. O afastamento físico que ocorrera 2 meses antes, era uma forma de vermos realmente o que sentiamos. E realmente, serviu para isso. :(

E o que sentias era bem diferente daquilo que eu sentia por ti. Tal como com a Sininho e o Peter Pan... havia a Wendy pelo meio. Não percebi bem se usaste a Wendy apenas para me afastares quando te apercebeste o que afinal representavas para mim. Não era um relacionamento assim que querias... será que sofres do Síndrome de Peter Pan???

Quanto a mim, doeu-me bastante o teu afastamento... especialmente o ter perdido o AMIGO que eras, e com quem partilhava uma série de pequenas coisas (música, livros, concertos...), e em quem confiava acima de tudo... mais até do que ter perdido a pessoa com quem queria partilhar a minha vida.

A vida continuou... acabámos por nos afastar radicalmente, sem volta possível. Muito provavelmente, se nos tivessemos ficado apenas pela amizade, teriamos evitado uns quantos dissabores. E, tenho ainda hoje, volvido todo este tempo, saudades das conversas sobre livros, sobre discos, sobre poemas, sobre concertos, sobre locais onde já estiveste e eu (ainda) sonho ir. Ainda hoje, volta e meia fico surpreendida ao descobrir temas musicais ou textos que vais deixando online. A maior parte das vezes acabo por gostar e acabo por comprar o cd ou livro. Esse “legado” ainda subsiste, e volta e meia quando vejo um determinado livro ou um determinado cd numa loja, lembro-me de ti.

E não, não estou a viver no passado. Sei que tudo tem um tempo próprio, que o tempo em que fizeste parte da minha vida chegou ao fim. Mas tenho saudades das conversas... e às vezes espantas-me com os temas e os textos que vais deixando por aí. Às vezes, vão de encontro ao que penso ou ao que sinto. Enfim... a vida continuou... e remoer o passado é uma pura perda de tempo.
Mas a saudade que sinto pelo Peter Pan do meu passado é muito semelhante à saudade que sinto do meu avô: ao passar por locais conhecidos, lembro-me com carinho de uma série de situações. Sei bem que ele não irá regressar, mas as pessoas de quem gostamos continuam presas a nós, enquanto nos recordarmos delas com carinho. Curiosamente, perdi-vos a ambos na mesma altura, com uma diferença de semanas... :(


Quanto aos sonhos, esses, a maior parte dos que pensava concretizar ao teu lado, acabei por os atingir sózinha: controlar os problemas de saúde, permitindo-me voltar a ter uma vida normal, uma situação laboral mais estável, terminar a pós-graduação, conseguir o cantinho com que andava a sonhar há 25 anos... Falta apenas concretizar um GRANDE sonho, o maior de todos, que esperava construir ao teu lado. Creio que te assustaste quando te apercebeste de tal facto. Sei que a cada dia que passa as probabilidades de atingir esse sonho se diluem. Mas não desisti, nem vou desistir... dos fracos não reza a história, dizia alguém muito frequentemente. (E felizmente, durante todo este tempo pude contar sempre com uma série de amigos fantásticos, que têm estado "Lá", quando preciso... SEMPRE!!!!!)

Não creio que as nossas vidas se cruzem de novo, pelo menos nesta Vida.
Por isso, até Nunca...

(Da que em tempos foi a) Sininho
(a tal da Inês Pedrosa... não a do J.M. Barrie)




"Deixar a luz entrar
Sentir de novo
Aquela dor

Perdoar
Há tanto tempo que eu queria mudar
A corpo a corpo respirar
Aquele amor que foi
Perdoar

Sentir de novo
Aquela dor
A pouco a pouco respirar
Aquele amor que foi
Vivido e esquecido
Em segredo
Como ninguém

Perdoar
Como perdoar
Há tanto tempo que eu queria mudar
Queria voltar
Acordar
Deixar o dia passar devagar
Assim ficar

Sentir de novo
Aquele amor
A pouco a pouco consolar
Aquela dor que foi sentida e sofrida
Em silêncio

Chegar de novo
Sentir o amor
Voltar a casa sem pensar
Deixar a luz entrar
Esquecer aquela mágoa
Sem ter medo
Como ninguém

Encontrar
Poder encontrar
Todas as coisas que eu não soube dar
Saber amar
Perdoar
Saber perdoar
Há tanto tempo que eu queria mudar
Queria voltar
Aceitar
Deixar que o tempo te faça voltar
Saber esperar

Adriana Calcanhotto

("A Casa" - de Rodrigo Leão)
(Por acaso... escrevi este texto depois do concerto do Rodrigo Leão, antes de adormecer... só uns dias depois me lembrei que nesse dia fez 3 anos sobre essa tal partida... talvez fosse o subconsciente a funcionar...dizem que não há coincidências...)

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