24 abril 2007

Noite de viagem

Amei a tua inquietação; e disseste-me que
te amei sem saber porquê, que as marés anunciavam
o luar que não chegou, que não foi preciso
olhar o fundo transparente das palavras
para que a sua verdade nos tocasse, que a tua mão
colheu o fruto da primeira árvore sem que nada
o impedisse.

Amei-te sem ter a certeza da manhã, sem ouvir
o vento que fez bater as janelas num eco do passado,
sem correr as cortinas do mundo para que
ninguém nos visse, sem apagar do teu rosto
o brilho da vida, enquanto as aves dormiam,
e o licor do sonho se derramava sobre os corpos
que cortavam a noite.


Mas ao seguir o seu rumo, o azul
floresceu das cinzas, a música despontou
dos silêncios da madrugada, e os teus olhos
amanheceram quando me disseste que
te amei, sem saber porquê
.



Nuno Júdice
(este poema recordou-me uma fase da minha vida... e alguém que passou por ela e deixou algumas marcas... uma delas foi a descoberta de Nuno Júdice... alguém de quem eu gostei muito, sem saber porquê... "por tudo, por nada, e por coisa nenhuma"... mas os regressos ao passado durante muito tempo não fazem bem. E a vidinha continua... )

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