Cai-me das mãos o resto de cansaço...
...nem de propósito... é que ainda há pouco me estava a queixar do cansaço estúpido dos últimos tempos à Su... para eu dizer que não consigo "andarilhar", é porque isto não está bem...
Cai-me das mãos o resto de cansaço
e gela. Escorre inútil. Débil fio
à flor do corpo: transparente ou baço?
Dos braços verticais dedos esfio.
Abri-los. Distendê-los. E não faço
o fácil movimento. Só desfio
pela memória o nítido regresso.
Voltado sobre mim me desafio.
O círculo não fecha. Enquanto aflora
o leve estremecer. Uma demora
dum gesto me suspende. Quase salto
sobre as garras do tempo. Breve e incauto
me prolongo no rasto dum desejo.
E o milagre: apalpo, sofro, vejo.
* José Augusto Seabra (1937-2004)
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