24 abril 2008

Cai-me das mãos o resto de cansaço...

...nem de propósito... é que ainda há pouco me estava a queixar do cansaço estúpido dos últimos tempos à Su... para eu dizer que não consigo "andarilhar", é porque isto não está bem...



Cai-me das mãos o resto de cansaço

e gela. Escorre inútil. Débil fio

à flor do corpo: transparente ou baço?

Dos braços verticais dedos esfio.



Abri-los. Distendê-los. E não faço

o fácil movimento. Só desfio

pela memória o nítido regresso.

Voltado sobre mim me desafio.



O círculo não fecha. Enquanto aflora

o leve estremecer. Uma demora

dum gesto me suspende. Quase salto



sobre as garras do tempo. Breve e incauto

me prolongo no rasto dum desejo.

E o milagre: apalpo, sofro, vejo.



* José Augusto Seabra (1937-2004)

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