25 setembro 2010

...mais tarde olhei-te e nem te conhecia...

Através da Chuva e da Névoa






Chovia e vi-te entrar no mar


longe de aqui há muito tempo já


ó meu amor o teu olhar


o meu olhar o teu amor


Mais tarde olhei-te e nem te conhecia


Agora aqui relembro e pergunto:


Qual é a realidade de tudo isto?


Afinal onde é que as coisas continuam


e como continuam se é que continuam?


Apenas deixarei atrás de mim tubos de comprimidos


a casa povoada o nome no registo


uma menção no livro das primeiras letras?


Chovia e vi-te entrar no mar


ó meu amor o teu olhar


o meu olhar o teu amor


Que importa que algures continues?


Tudo morreu: tu eu esse tempo esse lugar


Que posso eu fazer por tudo isso agora?


Talvez dizer apenas


chovia e vi-te entrar no mar


E aceitar a irremediável morte para tudo e todos



Ruy Belo
in “O tempo das suaves raparigas e outros poemas de amor”

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