28 dezembro 2010

...enquanto me adio vou perdendo morada...

Destino




à ternura pouca


me vou acostumando


enquanto me adio


servente de danos e enganos






vou perdendo morada


na súbita lentidão


de um destino


que me vai sendo escasso






conheço a minha morte


seu lugar esquivo


seu acontecer disperso






agora


que mais


me poderei vencer?






Mia Couto
in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"
 
 
...às vezes penso que a minha vida não poderia ter sido mais fácil e que tinha que trilhar o caminho das pedras. Creio que esse caminho difícil e cheio de pedregulhos, no meu destino, tinha como objectivo o crescimento pessoal. Não foi fácil, reconheço, o deixar de me sentir um patinho feio. Mas, nos últimos seis anos, sei que consegui mudar muitas coisas. Costumo dizer que não tenho tudo o que gostaria, mas gosto e valorizo o que tenho. Tudo me custou tanto, que cada pequenina coisa tem um significado especial. Por isso guardo religiosamente bibelots, postais, fotos antigas... - tudo o que me recorde das coisas boas que fui vivendo.
E nos últimos tempos, acho que me tenho surpreendido e tenho surpreendido pela positiva alguns dos meus amigos. Há umas semanas atrás, em conversa com a minha Fau, ela dizia-me "nunca pensei ouvir-te falar assim, e já nos conhecemos há mais de 20 anos". "Nem eu", respondi-lhe.
 
Contudo, creio que aquilo que podia e deveria fazer sózinha está quase terminado. Sempre, desde miúda, soube o que queria da vida. Em termos profissionais consegui  alcançar o que sonhei. Quanto ao resto, tenho tentado, nem sempre da forma mais convencional alcançá-lo. Não é fácil. E já muitas vezes desesperei. Sei que irei conseguir. Mas, neste momento estou num impasse, num beco sem saída, do qual não consigo sair sózinha... até quando???


(esta análise talvez não prime pela humildade, mas é apenas uma abordagem pragmática... houve umas quantas tempestades na minha vida, que me fizeram mudar o rumo; não teria outra opção: ou alterava a minha vida ou me afundava. E alguém em tempos dizia que eu sou uma sobrevivente... e comparando o meu modo de ser de há 10 anos atrás com o de hoje sei que muito melhorou... as mudanças que faltam não dependem apenas de mim...)

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