06 dezembro 2010

...faca no coração...

...ainda sobre a amizade, não posso deixar de concordar com o grande Vinícius de Moraes, quando diz que "A gente não faz amigos, reconhece-os". De facto, nem muitas vezes percebemos porque razão entram na nossa vida determinadas pessoas e porque motivo nos ligamos tanto a elas, ficando incrustadas no nosso coração. Uma das pedras que caiu há uns anos, ainda hoje me faz alguma falta, tal foi a marca que deixou. Sei que não há volta possível. Era para mim, mais do que tudo, o meu melhor amigo, a pessoa em quem eu confiava tanto ou mais do que em mim mesma. Agora sei que o sentimento que nutria por mim era diferente, bem diferente, e que pecava por falta de confiança. E quando não se confia, não pode haver amizade; ou pelo menos, de acordo com o que eu entendo que é a amizade, esta assenta na confiança, no respeito e na aceitação. Só assim é possível criar laços que perdurem. Porque a pior coisa que se pode sentir é que "um amigo" não confia em nós ou que brinca com o que sentimos - qual "faca no coração"...

No primeiro dia que saí contigo

disseste que o teu trabalho era estranho.

Mais nada. Todavia, eu sentia

a pele a rasgar-se como trapos

de cada vez que me tocavas com a mão.

E os teus olhos pareciam-me punhais

a fazer-me doer os meus.

Daí para a frente foi sempre a mesma coisa:

tu orgulhavas-te da tua arte,

mais subtil e directo em cada dia

e eu nunca percebia nada.

Mas agora sei.

Já conheço o teu ofício:

Atirador de facas.

A mais certeira atiraste-ma ao coração.
 
 
-Amalia Bautista-
 
 

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