22 dezembro 2010

...o Espírito do Natal...

O Espírito do Natal





Estava o Senhor Teotónio, que era rico, muito gordo e grande fumador de charutos, a carregar o carro com os presentes que passara a manhã a comprar para os filhos, para os sobrinhos e para as muitas pessoas com quem fazia negócios, quando se aproximou dele um homem pobre, idoso e magro, que prontamente obteve dele esta resposta:

 
— Comigo não perca tempo porque não tenho dinheiro trocado, nem alimento falsos mendigos.

 
— Mas eu não lhe pedi nada — respondeu o homem idoso serenamente, com um sorriso que desarmou o Senhor Teotónio e a sua bazófia de novo-rico.

 
— Então se não me quer pedir nada, por que motivo está tão perto de mim enquanto eu carrego o meu carro? — perguntou o Senhor Teotónio entre duas baforadas de charuto que fizeram o homem idoso e magro tossir convulsivamente.


— Estou aqui, meu caro senhor — respondeu ele, já refeito da tosse — para tentar perceber o que as pessoas dão umas às outras no Natal.

— Com que então — concluiu ironicamente o Senhor Teotónio, grande construtor civil com interesses de norte a sul do País — temos aqui um observador! Deve ser, certamente, de uma dessas organizações internacionais que nós pagamos com o nosso dinheiro e que não sabemos bem para que servem.

 
— Está muito enganado. Mas já agora responda à minha pergunta: o que é que as pessoas dão umas às outras no Natal? — insistiu o homem pobre, idoso e magro.

— Bem, se quer mesmo saber, eu digo-lhe. Quem tem posses como eu pode comprar uma loja inteira, deixando toda a gente feliz, a começar nos comerciantes e a acabar nas pessoas que vão receber os presentes. Quem é pobre como você fica a assistir. Percebeu a diferença?


O homem magro e idoso reflectiu uns instantes sobre a resposta seca e sarcástica do Senhor Teotónio e depois respondeu-lhe com uma nova pergunta:

 
— Então e o espírito do Natal?

— O que vem a ser isso do espírito do Natal? — quis saber, cheio de curiosidade, o Senhor Teotónio.

— O espírito do Natal — respondeu o homem idoso e magro — é aquilo que nos vai na alma nesta altura do ano e que está muito para além dos presentes que damos. Para muitas pessoas, o melhor presente pode ser um telefonema, uma carícia ou um telefonema quando se está só.


— Era só o que me faltava agora — desabafou, enfastiado, o Senhor Teotónio, enquanto arrumava os últimos presentes na mala do automóvel — ter agora um filósofo, ainda por cima vagabundo, para aqui a debitar sentenças.

 
O homem magro e idoso afastou-se do carro, mostrando que não queria esmolas nem qualquer outra coisa que lhe pudesse ser dada pelo Senhor Teotónio, e encaminhou-se para um grupo de crianças que o esperavam.

 
Quando o Senhor Teotónio passou por eles no carro, ouviu uma voz de criança a dizer:

 
— Vamos, Espírito do Natal, porque hoje ainda temos muito que fazer.

Dizendo isto, o grupo ergueu-se no ar a esvoaçar com destino incerto, largando um pó luminoso enquanto ganhava altura no céu cinzento de Dezembro.

 


José Jorge Letria
in "A Árvore das Histórias de Natal"



















...gosto do Natal. Apesar de me recordar de muitas confusões familiares nesta altura do ano, sempre foi a minha Festa preferida. Mais do que o Natal comercial - e com crianças na família e felizmente com os amigos a aumentarem o número de rebentos é inevitável gastar uns largos trocos a comprar lembranças para a criançada - gosto da troca de mensagens, de postais... gosto de receber notícias de amigos que já não vejo há muito, gosto de reencontrar amigos que mal vejo ou mal contacto por causa da vida estúpida de permanente correria em que vivemos. E, nestas alturas, apercebo-me que fazem parte da minha vida, que fazem parte de mim. E mesmo quando as conversas se resumem a alguns minutos em épocas de festa, nestes minutos estreitamos os laços antigos e parece que o tempo que estivemos sem falar afinal foi bem mais curto e que em vez de longos meses passaram apenas alguns minutos. Acho que as verdadeiras amizades se medem com esta fita que permite ligar em breves minutos anos de distância. E tenho muita sorte por ter bons amigos. Não apenas nesta altura, mas o ano inteiro.

E gosto do Espírito de Natal: de facto, o Natal, começa muito tempo antes, para mim. Gosto de dar lembranças às pessoas de quem gosto. Não têm que primar pelo custo - normalmente, começo a minha lista uns bons meses antes e quando vejo coisas úteis a preço convidativo, vou começando as compras. Nem sempre são presentes personalizados, como gostaria, confesso. Normalmente, e porque a lista é longa, pelo que que se torna complicado ter todas as prendas personalizadas, opto por coisas com alguma utilidade em casa. Um ou outro, por os conhecer melhor ou por saber que desejam especificamente alguma coisa, lá terão uma prendita mais personalizada. O pior, mesmo, é quando nas vésperas de Natal, ao separar as prendas para ir entregando, me dou conta que ainda falta a prenda para X ou Y, porque baralhei alguns nomes na lista. É o stresse total!!!!

Ainda assim, as lembranças que ofereço é por gostar das pessoas, não por obrigação de dar. Ainda há pessoas na minha antiga faculdade a quem eu vou no Natal, levar uma caixa de chocolates, de propósito: estiveram presentes em mais de 12 anos da minha vida, nos bons e nos maus momentos, e ainda hoje quando preciso deles me dão uma ajuda. O Natal, normalmente, para mim, estende-se pelos restantes dias do ano: afinal, o ano inteiro é tempo de Paz, Alegria, Amor, Amizade e tempo de partilha com os outros, especialmente com quem amamos e nos ama.



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