02 fevereiro 2011

...memórias...

Song


I almost went to bed
without remembering
the four white violets
I put in the button-hole
of your green sweater




and how I kissed you then
and you kissed me
shy as though I'd
never been your lover

 
 
...estes últimos dias, "encosta às boxes" por causa das viroses e das bactérias que não apenas decidiram atacar em força, mas também convidaram os amigos e decidiram fazer um mega-convívio cá dentro, deu-me para arrumar algumas coisas e repensar na minha vida:  o que tenho conseguido melhorar, o que ainda pretendo mudar e, acima de tudo, arrumar de vez o passado.
Em termos de mudanças, há algumas melhorias de vida prementes, que já iniciei, como ter uma vida mais calma. De facto, a correria que tem sido a minha vida nos último anos tem deixado algumas marcas menos boas. Está na altura de mudar de vida. Há outras mudanças, que tentarei fazer, pensando no futuro, como tentar encontrar um cantinho com maior acessibilidade (ao longo dos últimos meses, repensei a situação da minha casa de sonho, ao me dar conta dos problemas da minha avó a subir escadas). Mas, essa situação não é urgentíssima e tenho que ver o que posso pagar e a condições do novo cantinho. A conjuntura económica não é propícia a loucuras e, definitivamente, para mudar para pior, continuo como estou. Há outras mudanças que necessito fazer, mas estas em mim mesma, que sou uma pessoa perfeitamente imperfeita, e que já tiveram início... e algumas dessas mudanças consistem em arrumar o passado. Essa tarefa revelou-se mais complicada do que me parecia ser inicialmente. Mas é impossível arrumarmos uma parte da nossa vida se não estivermos bem e se não nos sentirmos bem. E é nisso que venho trabalhando: aceitar-me como sou, tentando melhorar o que consigo, mas não exigindo ser perfeita nem exigindo que os outros o sejam. Obviamente que isto não pressupõe uma aceitação sem limites dos defeitos dos outros. Costumo dizer que as pessoas que eu coloquei no meu "cesto dos amigos", são pessoas fantásticas mas, como todos os seres humanos, têm alguns defeitos. Contudo, esses defeitos são incomparavelmente menores que as virtudes. Pelo menos aos meus olhos. E creio que eles têm uma atitude semelhante comigo. Mais ainda, esses seres fantásticos ajudam-me a seguir em frente e a tentar encontrar o meu caminho.  E têm-me ajudado a arrumar uma grande confusão de sentimentos e acontecimentos fantásticos do meu passado conjuntamente com outros que foram terríveis.
Na passada semana, casualmente, numa arrumação de papéis no escritório, encontrei umas cópias de uns mails. Diziam respeito a alguns acontecimentos do passado. O que é certo, é que senti que essa parte da minha vida estava arrumada. Foi importante, sim, dado que me ajudou a acreditar mais em mim e me ajudou imenso num período que foi, de certa forma, emocionalmente conturbado. Mas, essa ajuda não foi desculpa para o que se seguiu uns meses depois. De facto, usar o que outros sentem e inventar novelas macabras para se conseguir atingir uma finalidade vai muito além do que consigo desculpar, muito além do que o meu "70 x 7" compreende. E, de facto, esse episódio está encerrado e mesmo os convites para fazer parte do seu grupo de "amigos sociais" na rede têm sido ignorados. Tenho muitos defeitos, mas a hipocrisia não é dos mais relevantes.
Encontrei também um caderninho um pouco mais recente com anotações de sms, textos de mails, pedaços de conversas. Esta parte do passado ainda me deixa um aperto no peito, embora essa mágoa se tenha diluído ao longo do tempo. E esta minha mudança de comportamento ao longo do tempo deixa-me contente. Para alguém com um temperamento emotivo e impulsivo como eu, não foi fácil aprender a lidar com alguns sentimentos imensos e tão diferentes em tão pouco tempo. Passar de uma felicidade imensa, que pensei ser algo utópico, mas que foi uma realidade, para um enorme vazio, sem perceber o porquê da mudança (e, que ainda hoje não consigo perceber bem), fez ruir por completo o meu mundo já de si decadente. Tentei mudar o meu modo de olhar para este "tempo" da minha vida. E consegui mudar bastante - de um estado depressivo e agressivo, evoluí para um estado de aceitação. Levou o seu tempo. Contudo, levou o tempo necessário para evitar que outras pessoas fossem apanhadas neste turbilhão de sentimentos contraditórios. Brincar com sentimentos é das coisas mais desagradáveis que se pode fazer a qualquer pessoa. Nesta altura da minha vida, já consigo falar normalmente dessa fase. O que demonstra alguma aceitação, embora seja difícil aceitarmos uma rápida passagem de um sonho a um pesadelo, sem sequer percebermos o porquê. De qualquer forma, tenho muito mais sorte que a maioria dos comuns mortais. A maioria compartilha comigo os momentos maus, as situações de se sentir estar a viver um pesadelo. No entanto, eu passei pela outra face da medalha: a fase fabulosa, de me ter sentido mais feliz do que pensei ser possível. E, esta fase a maioria desconhece. Como dizia Pessoa, "O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis." E de facto, há momentos inesquecíveis e coisas inexplicáveis nesta história. E todas estes acontecimentos do meu passado, ajudaram a esculpir a pessoa que hoje sou: alguém perfeitamente imperfeito...

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