Deixa-te ficar na minha casa
Tenho livros e papeis espalhados pelo chão
A poeira de uma vida deve ter algum sentido
Uma pista, um sinal de qualquer recordação
Uma frase onde te encontre e me deixe comovido
Guardo na palma da mão o calor dos objectos
Com as datas e locais. Porque brincas, porque ris.
E depois o arrepio: a memória dos afectos
Que me deixa mais feliz
Deixa-te ficar na minha casa
Há janelas que tu não abriste
O luar espera por ti quando for a maré-vasa
Ainda tens que me dizer porque é que nunca partiste
Está na mesma esse jardim com vista sobre a cidade
Onde fazia de conta que escapava do presente
Qualquer coisa que ficou, que é da nossa eternidade
Afinal, eternamente.
Deixa-te ficar na minha casa
Há janelas que tu não abriste
O luar espera por ti quando for a maré-vasa
Ainda tens que me dizer porque é que nunca partiste
(João Monge/João Gil)
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